06 junho 2006

Acendi a vontade de escrever. É como o cigarro que não fumo na estação de comboio. Pedi-te isqueiro e tu, algures perdido nos confins deste mundo que eu inventei, para dançarmos a tempestade e a chuva, estendeste-me a mão. Agora sei que acabamos por não dançar e o fim esta historia foi redigido no banco do comboio que passou. Mas eu continuo aqui e a solidão consola me. Andei em vão, na tenta tive de (re) encontrar no areal das emoções, mas ai já tu tinhas escrito a fogo o caminho da ausência. E começou a nevar sobre mim. Procurei-te na multiplicidade da razão, encontrando enfim as premissas da nossa união e a tua sombra -a ideia tão simples, na errónea, que eu tinha de ti. Vasculhei as memórias daquilo que aconteceu e que eu gostaria que tivesse acontecido, mas também aí te perdi. E então resolvi fugir. Ocultei-me na tua imagem e fiz-me sombra da tua essência. Errei pelo sonho fora, contigo, e assim consegui ser feliz.
O cigarro que nunca fumei apagou-se, e eu voltei para a vida que era minha. Foste uma ilusão que eu engendrei para suportar o frio da estação, mas o comboio chegou e tu deixaste e existir. Sorrio ao vento que fica para trás, que te leva com ele nas paisagens em movimento. Foi um instante inefável mas imitado, dessa outra incerteza que é a Vida, eu continuo o meu caminho. A face rubra deste calor metálico esconde-me, cada vez mais, do frio que nasce lá fora. A ausência de ti instala-se mas eu não a sinto. Afinal sempre fomos fantasmas da multidão.

Nenhum comentário: